A trilogia que enlouqueceu mulheres, fez com que a vida sexual de muitos leitores fosse abalada e virou, posteriormente, filme, teve um impacto imenso na cultura pop e trouxe,  em primeiro ponto, através de sua narrativa nada mais nada menos do que um romance água com açúcar, porém, com o apelo ao BDSM (Bondage e disciplina, dominação e submissão, sadomasoquismo), que torna o livro um Soft Porn, mas é claro que o fenômeno dos 50 tons não se deu só por estas questões.
São dois os personagens principais da trama, Anastasia(self-under-construction) que é a jovem que busca por uma identidade, que não tem auto estima e sempre se coloca para baixo, e temos Christian Grey(self-made-man), um homem rico e poderoso, apaixonado por dominar mulheres durante relações dentro e fora de quatro paredes, e  que faz de tudo para conquistar Anastasia, se tornando obcecado por ela. Logo no começo é possível perceber, através de uma análise mais crítica, que o relacionamento dos dois se constrói de forma completamente abusiva, afinal, a trama de submissa e dominador vai além do âmbito sexual e se torna uma característica regente da relação. Sem contar com o fato de que Anastasia depende 100% de coisas tangíveis, como os presentes, e coisas intangíveis, como o sexo com seu parceiro, para se descobrir como mulher, coisa que não deveria depender de homem algum. O curioso é que deixando de lado milhares de questões assustadoras na trama, o casal é mais do que feliz, Christian foi visto pelos leitores como o “homem que toda mulher sonharia em ter” pois ele protege, ele mima e ele traz prazer imensurável na hora do sexo.
O livro é um produto da cultura midiática, e se torna um material simbólico em muitos sentidos para que as pessoas construam seus Selfs, afinal, o Self é um projeto simbólico que os indivíduos podem construir com materiais que lhes são oferecidos pela mídia. Existem relatos e mais relatos de mulheres que se divorciaram de seus maridos ou que deram verdadeiras reviravoltas em seus relacionamentos porque queriam aquela loucura que era o Christian Grey, queriam se sentir dominadas, desejadas e sexys como o personagem fez Anastasia se sentir durante todos os livros É interessante ter contato com relatos de mulheres que leram os livros e trouxeram a questão para seus maridos e sobre como suas vidas sexuais, segundo elas, se reinventaram e voltaram a ser instigantes.
Todo este “faz de conta” de 50 Tons pode ser problemático, como também, qualquer Self mediado pode ser, por exemplo através absorção viciada por parte do leitor. Tal absorção é problemática pois esse apego muito exacerbado a algum material simbólico faz com que o caráter reflexivo do Self desapareça, e abordando de forma mais específica a trilogia de livros, essa dependência se torna problemática pois a vida é real, e o conto de fadas BDSM é uma solução simbólica e fantasiosa para problemas reais na vida das pessoas.

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